Sim, eu me lembro. De
cada detalhe do seu rosto, do tom moreno do seu corpo, do toque macio das suas
mãos. Eu me lembro de como os dias eram compridos e de como eu me perdia dentro
de mim, sempre tentando buscar pistas de como te encontrar e como não parecer
boba quando te encontrava. Eu me lembro das manhãs geladas, dos amigos e das
tantas desculpas pra poder te ver, lembro que era tão difícil disfarçar e
quando conseguia, o meu tom de pele me denunciava.
Só que tão menina, que tão pouco sabia da vida, sabia do amor. Sabia medir o tamanho, mas não a complexidade. Coisa bonita é essa que a gente tem aqui em cima, faz tudo parecer vivo de novo, lembro das cores, das expressões, das músicas, do cheiro. Me lembro do primeiro dia, do segundo e das semanas que se passaram e se transformaram em anos. Me lembro das taças de vinho, do cheiro do shampoo, das noites claras.
Sim, eu me lembro, sem precisar de retratos na parede, nem cartas guardadas na gaveta quase amareladas com o passar do tempo. Me lembro da meninice e dos olhos marejados, quase sempre acompanhados de uma batida com pressa, querendo saber logo quando era a hora de parar – e não tinha fim.
Não tem
fim.
Dani*